No dia 25 de janeiro, foram avistadas a chegada de novas manchas de petróleo no município de Aracati, litoral leste do estado do Ceará. Desde então, pescadores e pescadorasRonaldo Gonzaga – Pescador Artesanal/Quilombola do Cumbe – Registro: Município de Aracati/26.02.2022 iniciaram o monitoramento diário das suas áreas, realizando a comunicação de cada nova ocorrência. Na primeira semana foram localizadas manchas em aproximadamente quinze praias, de cinco municípios. Com o apoio das comunidades, órgãos do Governo do Estado, Capitania do Portos, Prefeituras, Organizações Não Governamentais, Universidades, estão atuando nas ações de identificação, orientações, coleta, análise, armazenamento e destinação segura do material recolhido.

 

Ainda em janeiro, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado (SEMA), realizou uma reunião para alinhamento de protocolos em casos de ocorrências de manchas no litoral. Estiveram presentes gestores municipais, pesquisadores, órgãos ambientais e organizações da sociedade civil que atuam na defesa do meio ambiente. Na oportunidade, foi realizada a partilha das praias atingidas, das ações realizadas, a solicitação de equipamentos de proteção e material para armazenamento e destinação do material coletado, recomendações sobre o recolhimento de espécies oleadas, entre outras informações para limpeza das áreas.

Pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar/UFC) e Universidade Estadual do Ceará (UECE) percorreram as comunidades do litoral leste, realizando a coleta de material para análise. Sobre a origem das machas, havia uma hipótese que poderia se tratar de vestígios de petróleo do crime ambiental de 2019, mas de acordo com a análise do material coletado, foi constatado que não se trata do mesmo petróleo.

 

Alguns dias seguiram sem a notificação de novas ocorrências, mas no início da segunda semana de fevereiro, foram registradas novas manchas em praias da região metropolitana de Fortaleza e litoral oeste do estado. Segundo informações, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado (SEMA) permanece em articulação com as Prefeituras dos munícipios afetados para as devidas providências. Já foram atingidas, aproximadamente, 41 praias em 11 municípios.

 

Desde a tragedia ambiental de 2019, pescadores e pescadoras aguardam a responsabilização dos culpados e clamam por ações de reparação pelos danos sociais e ambientais provocados em suas vidas e em seus territórios. Relatam também a preocupação de que esse novo desastre possa gerar impactos na saúde e na segurança alimentar e nutricional das suas comunidades.

 

A pescadora Maria do Vale, mais conhecida como Maninha, da Comunidade Jardim, no município de Fortim (CE), desabafa: “Estamos adoecendo com tanta negligência e negação de direitos. São mais de dois anos do crime ambiental que afetou nossas vidas e o nosso ecossistema. Não superamos os impactos de 2019 que foram aprofundados com a chegada da pandemia da Covid-19. Reconhecemos o que tem sido feito, mas precisamos de mais respostas e compromisso para reparar os danos provocados às comunidades tradicionais”.

 

Diana Maia – Agente Pastoral do CPP/CE – Registro: Município de Fortaleza/09.02.2022O pescador Ronaldo Gonzaga, da Comunidade Quilombola do Cumbe, relata a vigília que a comunidade tem realizado. “A gente continua monitorando as áreas. Desde a chegada do petróleo, realizamos vários percursos, encontramos muito petróleo espalhado em pequenos pedaços. Nos preocupa se as manchas avançarem para nossos manguezais. A nossa biodiversidade sofreria grande consequências, por isso, continuamos atentos e monitorando nossa região”.

 

Para a agente de pastoral do CPP Ceará, Diana Maia, a limpeza das áreas atingidas é ação fundamental, mas é preciso avançar na construção de novas estratégias para mitigar os impactos gerados desde 2019. “Nesse sentido, o Conselho Pastoral dos Pescadores – Regional CE/PI se solidariza com pescadores e pescadoras artesanais e reafirma seu compromisso na luta contra todas as injustiças socioambientais praticadas nas comunidades tradicionais pesqueiras”, defende.

 

Errata: A quantidade de praias atingidas foi atualizada após os dados mais recentes da Secretaria do Meio Ambiente do estado do Ceará (SEMA).

[Fonte: Texto de Diana Maia com edição da Assessoria de Comunicação do CPP| Fotos: Ronaldo Gonzaga e Diana Maia]