A importância da saúde no trabalho
Saúde do Trabalhador enquanto campo, resulta da luta dos movimentos sociais a partir da década de 70 e se consolida através de determinados conceitos ancorados na Saúde Coletiva, na Medicina Social latino-americana e na Saúde Pública. Apresenta como objetivo o estudo, a análise e a intervenção nas relações entre trabalho e saúde-doença, mediante propostas desenvolvidas na rede de serviços de saúde, os quais abarcam medidas de promoção, prevenção e vigilância, tendo em conta as condições A e os contextos de trabalho. No Brasil, trabalho digno e saúde são direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988.
Assim, as políticas sociais devem ser gerenciadas pelo Estado, através de suas instituições e fiscalizadas pelos trabalhadores e trabalhadoras e suas organizações sociais, visando a redução do risco de doença e de outros agravos advindos do trabalho. Portanto, é importante sabermos que qualquer doença resultante das condições de trabalho ou da forma em que o trabalho é realizado configura-se como doença do Trabalho e pode ser prevenida, tratada corretamente evitando sua evolução para incapacidade permanente ou óbitos.
No Brasil, em 2002 foi criada a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), com o objetivo de “integrar a rede de serviços do SUS, voltados para a assistência e a vigilância da saúde do trabalhador e da trabalhadora. Os Centros de Referência estaduais, municipais e regionais em Saúde do Trabalhador (Cerest) promovem ações para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida do trabalhador e da trabalhadora por meio da prevenção e vigilância, na Atenção Primária à Saúde, nas urgências e emergências e na atenção especializada.
Todo trabalho tem perigos e riscos, mas precisam ser identificados e mensurados para que danos sejam evitados.
E afinal, perigo é o mesmo que risco
PERIGO refere-se às situações danosas tais como lesões ou doenças, danos materiais ou ambientais ou a combinação de ambos, que podem ser provocadas por instalações, atividades ou equipamentos.
RISCO refere-se à probabilidade de ocorrência de um evento perigoso. Sendo assim, o risco profissional é a possibilidade elevada, ou reduzida, de alguém sofrer danos provocados pelo perigo.
Então, entende-se Acidente de Trabalho como qualquer evento resultante das condições de trabalho ou dos perigos ou riscos existentes no trabalho, ou seja, no local e no tempo de trabalho, podendo produzir direta ou indiretamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença do qual resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte.
Atenção:
- É muito importante para os pescadores e pescadoras a identificação e notificação dos agravos relacionados ao trabalho (as doenças e acidentes de trabalho) nos sistemas de informação em saúde; registro da doença do trabalho para poder fazer o tratamento correto, para ter direito a afastamento quando necessário, para tratamento e reabilitação, para a abertura da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT). Portanto, em caso de acidente de trabalho não se esqueça de sinalizar aos profissionais de saúde que você tem direito a receber cuidados à sua saúde por profissionais de saúde.
- Protocolar registro no serviço de saúde, a CAT, pois muitos profissionais, assim como a sociedade civil desconhece que os pescadores artesanais são considerados pela Previdência Social como segurados especiais. Logo, há preservado o direito: Do auxílio acidente, salário maternidade, de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio reclusão, pensão por morte Seguro-desemprego na época do defeso (FREITAS et al., 2014. p. 282)
Alguns dos principais acidentes de trabalho relacionados à atividade da pesca artesanal: traumas e acidentes perfuro cortantes, bombas de pólvora, afogamentos, raios, incêndios e queimaduras, acidentes com animais peçonhentos marinhos e terrestres, acidente com escalpelamento decorrente do contato dos cabelos com eixo de motor de barco sem proteção em funcionamento.
Para conhecer o documento da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, acesse o link:
http://www.saude.ba.gov.br/wpcontent/uploads/2020/12/Pol_Nac_Sau%CC%81de_Trab_4ed.pdf
Atividades e riscos relacionados ao trabalho na pesca artesanal
Lesões por esforços repetitivos (LER), câncer de pele, doenças de pele, varizes, riscos biológicos, doenças respiratórias, riscos químicos, envenenamento por chumbo, doenças descompressivas. As Rotinas exaustivas com mais de 100 horas por semana, sem descanso semanal e sem férias, caracterizam ao trabalhador, e principalmente às trabalhadoras das águas um quadro de sobrecarga no trabalho, sofrimento psíquico e orgânico. Infelizmente os estudos realizados indicam a possibilidade de ocorrência de aproximadamente trinta patologias relacionadas ao trabalho na pesca artesanal, dentre as 200 enfermidades reconhecidas atualmente pelo Ministério da Saúde e pela Previdência Social. Os principais agravos ligados às maiores queixas vinculavam-se aos problemas articulatórios e neuromusculares, refletidos por dores nas costas, coluna, braços e pernas.
A mariscagem do sururu, por exemplo, envolve em média, 170 movimentos repetitivos com esforço por minutos 10.200 movimentos por hora. Um esforço deste tipo repercute no desgaste do corpo e favorece o surgimento também de lesões nos punhos e na coluna além de na ocorrência de acidentes, pois o corpo e a mente cansados de trabalhar estão mais frágeis. Outra situação muito importante a ser considerada são as contaminações do meio ambiente por agentes tóxicos, causadoras de males aos trabalhadores e trabalhadoras expostos a resíduos, lixos, esgotos sanitários, o que exige atenção no caso de aparecimento de qualquer sintoma ou sinal de que a saúde está sendo atingida para um minucioso relato no momento do atendimento médico.
Se puder assista novamente o documentário “Vento Forte” (direção de Patrícia Antunes, realização CPP de 2017) – acesse o link: Vento Forte | DOCUMENTÁRIO – YouTube.
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